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Rompimento entre prefeitos e vices nas cidades cearenses deve modificar cenário das eleições de 2024

  • Foto do escritor: Diário de Caucaia
    Diário de Caucaia
  • 3 de abr. de 2023
  • 6 min de leitura

Eleitos juntos em 2020, prefeitos e vices de algumas cidades devem trilhar caminhos opostos nas próximas eleições, alguns inclusive se enfrentando diretamente nas urnas

Escrito por Luana Barros, luana.barros@svm.com.br 17:00 - 02 de Abril de 2023.

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Foto: Thiago Gadelha/Alece/Reprodução


Segundo maior colégio eleitoral do Ceará, Caucaia é administrada, desde 2021, pelo prefeito Vitor Valim (sem partido) e pelo vice Deuzinho Filho (União). Contudo, ao contrário do início da gestão, agora os dois são adversários políticos. E devem, inclusive, estar em lados opostos na eleição municipal de 2024.

Apesar do rompimento não ser confirmado por nenhum deles, o afastamento político é uma realidade e deve ser um dos principais elementos da disputa eleitoral na cidade para 2024. Próximo do Governo do Estado, Valim deve tentar a reeleição, enquanto Deuzinho, ligado a Capitão Wagner (União), já se coloca como pré-candidato.

A situação, no entanto, não é exclusiva de Caucaia. Outros municípios cearenses têm, neste ano pré-eleitoral, um cenário de rompimento político entre prefeito e vice.


Em alguns casos, o distanciamento ocorreu ainda no início do mandato, com, por exemplo, o descumprimento de acordos firmados no período de campanha eleitoral ou divergências políticas quanto aos caminhos da administração municipal. Em outros, o afastamento é mais recente e antecipa, inclusive, os arranjos e articulações do ano eleitoral.


O impacto dessas rupturas, no entanto, não fica restrito às movimentações eleitorais. A depender da força política do vice, a ida dele para a oposição pode tornar difícil a efetivação de políticas planejadas pelo prefeito, caso o vice tenha influência, por exemplo, na Câmara Municipal, tornando mais complicadas aprovações de projetos de lei de autoria do Executivo municipal. "Isso enfraquece a gestão, porque enfraquece a capacidade de tomada de decisão, de aprovação de medidas junto ao Legislativo a depender da força do vice, da posição do vice. E isso tem seus custos, em um regime democrático principalmente. E isso, consequentemente, gera custos nas eleições seguintes".MONALISA TORRES Professora de Teoria Política da Uece


DISPUTA ELEITORAL ENTRE ANTIGOS ALIADOS

A professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará aponta que, para a disputa eleitoral, o resultado do "racha" entre prefeito e vice é o aumento da competitividade nas urnas. "Dado o caráter de fragmentação e de diferentes forças disputando o eleitorado", justifica Monalisa Torres.

A fragmentação e o aumento de competitividade que cita a professora ocorre em um contexto no qual a maioria dos municípios cearenses têm apenas um turno nas eleições municipais – as exceções são Fortaleza e Caucaia, onde é possível que os dois candidatos mais votados cheguem ao 2º turno.


Nas outras cidades, no entanto, quem concorre à prefeitura tem apenas uma chance, a cada pleito, de alcançar o comando do Executivo municipal.


Esta fragmentação já é vista em Itapipoca, na região Norte do estado. A vice-prefeita Dra. Jocélia explica que, apesar de ainda não ter iniciado uma movimentação, vem sendo "muito cobrada" sobre uma possível candidatura à prefeita. Ela mesma admite que é a "mais provável candidata da oposição" e tem, inclusive, conversado com ex-prefeitos da cidade sobre a disputa eleitoral de 2024.


O cenário não é tão diferente daquele enfrentado em 2020, quando ela também esteve na chapa que enfrentou o então prefeito da cidade, João Barroso. A diferença é que, se for confirmada como nome de oposição, Jocélia irá enfrentar o antigo companheiro de chapa e atual prefeito de Itapipoca, Felipe Pinheiro (PT).


O rompimento, segundo a vice-prefeita, foi uma iniciativa do próprio prefeito. "Pensei que íamos tomar um café, mas ele disse que tinha tomado uma decisão e que era a nossa ruptura", relembra.


Após a conversa, em maio de 2022, as pessoas ligadas a ela na gestão foram desligadas. Apesar de admitir que, antes disso, houvesse divergências políticas entre ela e o Pinheiro, Dra. Jocélia afirma que o prefeito não disse o motivo para o rompimento.


Apesar de ter sido eleito vice-prefeito de Acaraú em 2020 junto com a prefeita Ana Flávia Monteiro (PSB), Mano da Melancia estará na chapa adversária em 2024. O rompimento com a prefeita e com o deputado federal Robério Monteiro (PDT) – apontado como o líder do grupo político e com grande influência sobre as decisões na prefeitura – ocorreu em outubro de 2022, mas os desgastes vinham de antes.


A principal crítica do vice é sobre os acordos: "Não se cumpriu nada", reforça. A atuação da prefeitura também é criticada pelo prefeito, em diferentes áreas do município. "A educação e saúde estão em caos. (O abastecimento de) Água nas comunidades, não ajeitou nada", ressalta.


Mano ressalta ainda que, quanto às alianças, "se a pessoas puder dar trabalho politicamente", acaba sendo isolada. "Não dá oportunidade".


A falta de trato acabou impactando também na relação com o Legislativo, onde três vereadores anunciaram o rompimento com o Executivo municipal. Inclusive, o presidente da Câmara Municipal, Jarbas Nascimento, e o vice-presidente, Paulo Rocha.


O prefeito de Itapipoca, Felipe Pinheiro, e a prefeita de Acaraú, Ana Flávia Monteiro, foram contactados pelo Diário do Nordeste, mas não houve resposta até a publicação dessa reportagem.

A DIFICULDADE NA MANUTENÇÃO DE ALIANÇAS

Para Monalisa Torres, os rompimentos acabam sendo resultado da "lógica organização política do Brasil". Ela cita o conceito de presidencialismo de coalizão, no qual, para garantir a governabilidade, o presidente precisa formar alianças com diferentes partidos – algo que vai desde a chapa montada para concorrer ao pleito até a distribuição de cargos, caso seja eleito.


"A nível local não é diferente, (embora) aplicada, digamos assim, em um nível de poder menos complexo ou menor", afirma. A necessidade alianças ou coalizões, envolvendo diferentes grupos políticos de cada município, pode acabar resultando em desgastes.

"Não é difícil, não é algo impossível que a acordos que foram montados pré-eleição possam sofrer distúrbios, possam sofrer desgastes ao longo das gestões. Sobretudo, quando esses acordos são mais pragmáticos do que programáticos. Aí, a gente vê rachas acontecendo entre prefeitos e vices". MONALISA TORRES Professora de Teoria Política da Uece


Este racha dentro da gestão municipal se tornou, em algumas cidades cearenses, bem visível para a população. É o caso de Caucaia, mencionada no início desta reportagem. Após assumir a Prefeitura do município, Vitor Valim se aproximou do Governo do Estado – mesmo tendo sido eleito pela oposição.


Antigo aliado de Capitão Wagner, Valim chegou a apoiar o nome da ex-governadora Izolda Cela (sem partido) como candidata à reeleição e esteve no palanque do governador Elmano de Freitas (PT) – Wagner ficou em segundo lugar na disputa estadual.


Vice-prefeito, Deuzinho permaneceu na oposição. Em entrevista ao Diário do Nordeste, em março, ele negou o rompimento e disse que continua despachando normalmente do gabinete.

Na última quarta-feira (29), no entanto, apesar de ser vice-prefeito da cidade, ele enviou ofício à Prefeitura de Caucaia solicitando inspeção nas escolas municipais localizadas na cidade. Além disso, ele confirmou a pré-candidatura a prefeito de Caucaia.


Em Aracati, o prefeito Bismarck Maia (PDT) e a vice, Denise Menezes (PT), também romperam. Em junho do ano passado, a crise chegou a gerar uma troca de acusações entre a vice-prefeita e o secretário da Casa Civil e filho do prefeito, Guilherme Bismarck.



Em pronunciamento recente na Câmara Municipal de Aracati, Menezes ressaltou que o rompimento se deu quando começou a "descobrir, a desconfiar que nós tínhamos prioridades diferentes".

IMPACTO SOBRE A GESTÃO

Conforme noticiado pelo Diário do Nordeste, dois prefeitos cearenses são investigados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) após denúncias de afastamento irregular em decorrência de tratamentos de saúde. A Prefeitura, segundo as denúncias, teriam passado a ser geridas por pessoas próximas aos prefeitos – não eleitas para a função.


As denúncias são contra o prefeito de Limoeiro do Norte, José Maria Lucena, e de Tianguá, Luiz Menezes. Nos dois casos, existe um afastamento político entre prefeito e vice – em caso de pedido de licença, seriam os vices que assumiriam o comando do Município.


Declarado como oposição à gestão, o vice-prefeito de Tianguá, Alex Nunes, afirma que não houve divergência com o prefeito da cidade, Luiz Menezes, mas com a primeira-dama e secretária de Administração do município, Natália Félix.


"Depois da gente (ser) reeleito, me tiraram da gestão", afirma. Menezes e Nunes foram eleitos para o primeiro mandato em 2019, em uma eleição suplementar. A reeleição veio em 2020. O racha entre prefeito e vice acabou dividindo também o legislativo municipal – com oito vereadores apoiando a gestão e seis na oposição.


Agora, Nunes afirma que "tem pretensão política" e tem tentado "unir a oposição" para a disputa eleitoral de 2024. A Prefeitura de Tianguá foi contactada, mas não houve resposta sobre o assunto.


Ao contrário do vice de Tianguá, a vice-prefeita de Limoeiro do Norte, Dilmara Amaral, não se coloca como oposição à gestão municipal. "Na realidade, em nenhum momento consegui conversar com ele para que pudesse traçar uma linha. Eu fui afastada da gestão", reforça.


O afastamento, afirma, ocorreu ainda no início da gestão, em 2021. "Eu comecei a ter dificuldade de acesso a ele. Infelizmente, eu entendo que o afastamento não foi nem por ele, foi pela blindagem que ele sofreu", ressalta.


Tanto ela como o prefeito Zé Maria participaram de audiências no Ministério Público na última quinta-feira (30), a respeito da investigação sobre suposto afastamento irregular do prefeito. O conteúdo das oitivas, no entanto, foi colocado em sigilo pelo MPCE. "O município precisa do prefeito, que foi quem foi eleito. A população anseia por uma resposta e não tem", reforça.


O Diário do Nordeste também entrou em contato com o prefeito Zé Maria Lucena, por meio da assessoria, mas não houve retorno.


Por Diário do Nordeste

 
 
 

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